sábado

millor

E já que semânticos recém-entrados na semântica voltam a discutir sobre de onde nasceu a palavra eu entro aqui com...

...um tímido atrevimento.

Dizem que a revista alemã Burda em Portugal se chama Nárdegas. Parece que os portugueses resolveram enobrecer semanticamente essa parte do corpo, antigamente indigna; porém continuando a cobri-la com a tanguinha do r (proporcionalmente, na palavra, bem maior que as peças usadas aqui pelas moçoilas de Ipanema).

Mas o fato é que a bunda (falo da feminina!), a velha e inefável preferência nacional, de uns tempos pra cá, assumiu mesmo.

É bundinha pra cima, é bundinha pra baixo, bundinha apresentada assim como quem não quer nada (se isso é possível), ou como quem quer tudo, de frente (há bundinhas de frente?) ou de perfil, a qualquer hora do dia ou da noite, no jornal, nos cartazes de rua e, sempre, nos comerciais de cinema ou de tevê – e já, já no rádio. Como? Eles inventam! Isso sem falar da praia onde eu moro, com suas bundinhas ao vivo, soltas e livres, tentadoras como Deus as fez e feminismo nenhum consegue desmoralizar (corrijo, moralizar).
É, ao que tudo indica, a bunda agora veio pra ficar.

Nossos avós, naturalmente, já tinham visto muitas bundinhas, claro que pré-libidinosas – pelo menos pra adultos normais –, de bebês e crianças pequenas, em variados anúncios. Mas essa bunda nascitura ou infantil não visava, repito, ao erótico, mas ao utilitário – queria só vender fraldinhas e talquinhos.

Em suma, não só mudou a força da apresentação como a própria relação bunda-produto. Entre o talquinho e o traseiro recém-nascido, era natural a relação. Mas hoje, se ainda é óbvia a relação entre o admirável derrière da garota-propaganda e o jeans que ela despe, e até mesmo entre o posterior supimpa da Bundchen (que não se perca pelo nome) e um ferro de engomar (possivelmente vai passar a calça que vestirá a bunda, eta-ferro!), já se torna mais difícil perceber a relação entre a bunda e um cruzeiro nas ilhas gregas (a não ser que você seja mais malicioso do que eu), entre a dita parte do corpo e uma marca de uísque nacional e entre a mesma excelsa particularidade anatômica e a venda de ações, digamos, do Banco do Brasil.

Mas tudo vale a pena quando a bundinha não é (excessivamente) pequena.

Enfim, não sei se é um progresso ou um regresso – em se tratando de traseiros tudo é, lato sensu, regressivo –, porém a bunda, que passou de imoral a triunfal, corre o risco, como estão vendo, de, em pouco tempo, ser apenas material de reflexão social e filosófica.

Mas olha só essa que vai passando aí!
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